domingo, 10 de fevereiro de 2013

Dor crónica reduz capacidade de memória

Estudo publicado no “Journal of Neuroscience”

Investigadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular e da Faculdade de Medicina do Porto descobriram o mecanismo através do qual a dor crónica reduz a capacidade de memória.

Os indivíduos que sofrem de dores crónicas queixam-se frequentemente de situações de défice em memória de curto prazo. No entanto, os mecanismos nervosos que poderiam justificar estas ocorrências não eram ainda conhecidos.

Estudos recentes realizados em animais têm demonstrado que a dor induz distúrbios em diversos processos cognitivos, para além das alterações plásticas das vias sensoriais, ou seja, o cérebro remodela as vias pelas quais sentimos e pensamos”, revelaram os investigadores à agência Lusa.

Entre os distúrbios cognitivos que têm sido observados, os mais importantes são alterações na memória espacial, memória de reconhecimento, défice de atenção ou até mesmo a tomada de decisões emotivas e não emotivas.

No estudo publicado no “Journal of Neuroscience”, e ao qual a agência Lusa teve acesso, os investigadores utilizaram um modelo animal de dor neuropática, um circuito neuronal que é crucial para o processamento de memória de curto prazo é afetado. O circuito, estabelecido entre duas partes do encéfalo (o córtex pré-frontal e o hipocampo) é essencial para a codificação e retenção de informação de memória espacial temporária.

Os investigadores recorreram a multielétrodos implantados permanentemente no encéfalo e registaram a atividade neuronal durante a execução de uma tarefa comportamental dependente de memória espacial: os animais foram treinados num labirinto em que tinham de escolher entre dois caminhos alternativos e necessitavam depois de relembrar o caminho escolhido.

O estudo apurou que “após o início da lesão dolorosa, ocorre uma redução significativa da quantidade de informação que é partilhada pelo circuito. Isto pode significar uma perda na capacidade de processar informação de memória sobre localização espacial ou pode significar que essas regiões fundamentais para a memória são agora ‘invadidas’ por estímulos dolorosos que vão perturbar o fluxo de informação neuronal de memória”.

O líder do estudo, Vasco Galhardo, revelou que “este trabalho contribui para a demonstração de que a dor crónica induz alterações no funcionamento cerebral em circuitos que não estão diretamente ligados ao processamento tátil ou doloroso”.

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